Sobre o comercial com Elis Regina
Ando pensando em registrar termos de uso da minha imagem “pós morte”
Claro que não vou tomar esta atitude. Acho pouco provável, praticamente impossível, que a minha imagem pública desperte algum interesse após a minha passagem por esta existência.
Mas o rebuliço sobre o uso da imagem de Elis Regina na comercial da Wolkswagem cantando uma música de Belchior torna este debate necessário ou pelo menos atual.
A cantora e o compositor tinham à época uma atitude anti sistema e certamente uma postura contra a ditadura militar. O uso da imagem e da música choca alguns dos contemporâneos de ambas pois nunca imaginaram que seriam usadas como parte da propaganda de uma multinacional.
As novas tecnologias abrem esta possibilidade de recriação da trajetória daqueles que não mais estão entre nós em contexto e com intencionalidades definidas agora. Só que eles, os protagonistas, não arbitram os limites e possibilidades do uso. Muito menos o valor financeiro ds suas imagens e a que finalidades se destinam.
E quem toma esta decisão : pela legislação brasileira os filhos ou herdeiros diretos. Que julgam por valores estritamente pessoais onde a afetividade tem um peso enorme. Afinal, qual filho não gostaria de contracenar com um pai ou mãe que já se foi ?. Portanto não devemos condená-los a priori por qualquer iniciativa.
Somos tentados a pensar : fulano não tomaria tal atitude, vivo estivesse. Será ? O que não faltam são exemplos de mudanças de posições políticas e ideológicas com o passar do tempo.
Enfim….o comercial me causou um certo constrangimento mas também uma nostalgia por rever uma cantora querida que se foi precocemente cantando uma canção que marcou minha passagem para a idade adulta. Mas fujo dos julgamentos açodados.
Porisso, para evitar tretas futuras, recomendo que cada um de nós deixe não mais um testamento mas um termo de uso futuro de imagem e obra.